2016/11/30
"A Casa do Mundo" - Textos poéticos reunidos de Jorge de Sousa Noronha
No próximo dia 7 de dezembro será lançada a obra "A Casa do Mundo" - Textos poéticos de Jorge de Sousa Noronha. Este encontro terá lugar no Auditório da Secretaria-Geral da Educação e Ciência pelas 17.30. Contaremos com a presença de José Henrique Neto que fará uma sessão de poesia. Para comparecer basta apenas enviar um email para dsda@sec-geral.mec.pt.
2016/11/23
Artigo: "O Mein Kampf terá lugar numa biblioteca pública?"
“Ter o livro certo para a
pessoa certa no momento adequado é um objetivo louvável para as bibliotecas.
Definir o que é um livro «bom» é uma tarefa muito subjetiva.”
Ann Theis
Qualquer obra literária deverá
ter direito a constar do acervo de uma qualquer biblioteca pública
entendendo-se, para o efeito, que tal obra seja útil e necessária e sirva os
interesses e necessidades do público local que a biblioteca atenda. Não é
suposto que uma coleção biblioteconómica (voltada para o público) que se
pretende abrangente e inclusiva, seja construída à imagem e semelhança do seu
responsável, resultado dos seus interesses ou simpatias, muito menos sob a sombra
de uma ideologia política, crença religiosa ou qualquer outra espécie de condicionante.
A postura construtiva passa por formar uma coleção que se adeque a servir os
propósitos e os interesses da comunidade, seguindo uma política de seleção
previamente definida da forma o mais objetiva possível.
Tal situação, porém, ainda nos
dias de hoje poderá suscitar espanto, discórdia, ou revolta; pois não se
encontra ainda totalmente assimilado o facto de que uma biblioteca que se
pretenda atual, livre, aberta e democrática, reflita as tendências atuais e a
evolução da sociedade, bem como a memória da humanidade e o produto da sua
criação (concorde-se, ou não, com o legado herdado). A prestação efetiva de um
serviço público de qualidade na área da informação passa necessariamente – entre
outros importantes princípios – por garantir o livre acesso a um fundo
documental que se pretende rico e diversificado e que espelhe as diversas
tendências, formas de expressão e correntes de pensamento intelectual da
humanidade (histórico, político, literário, filosófico, religioso, ou outro).
Ann Theis, a autora citada na epígrafe deste texto, refere a propósito: “Muitas
definições de ‘boa’ literatura ou ‘boas’ leituras poderiam ser tão
calorosamente debatidas como a questão de abate/selecção é debatida, quer pelos
bibliotecários, como pelos não bibliotecários. Os livros representam o conjunto
do património escrito da civilização... a remoção de alguma coisa é considerada
profana”.
Repositório de um vasto e
diversificado conjunto de documentação, a biblioteca pública destaca-se,
precisamente, não só pelo forte laço que estabelece com a comunidade que serve
e o(s) seu(s) diferente(s) público(s) – crianças; jovens; adultos e idosos –
mas por se constituir ela própria como um espaço plural onde as ideias, as
opiniões, as crenças políticas ou religiosas, o sexo, a raça, a nacionalidade
ou o estrato social não figurarem como factores discriminatórios. Na biblioteca
pública todos são bem-vindos e acolhidos, a todos é dado igual tratamento e
liberdade de expressão (naturalmente, dentro dos limites que a lógica de
funcionamento da biblioteca imponha), a todos é reconhecido o direito de terem
ideias e ideais próprios e diferentes; em suma, a biblioteca pública – enquanto
espaço democrático – apresenta-se como um amplo fórum de liberdade, um espaço
sem censura, livre, em que o acesso à informação se constitui como um direito
básico e natural. Como querer ter pessoas educadas, participativas,
interessadas, envolvidas, motivadas... aptas a formar e emitir um juízo crítico
sobre as coisas, se lhes for vedado ou restringido o direito à informação?
Por esta ordem de razões, a
biblioteca pública – enquanto instituição – assenta em importantes princípios
consagrados, de entre os quais cumpre destacar: a “liberdade de escolha”
– qualquer um deverá ter a possibilidade de aceder aos fundos documentais que
são disponibilizados (regime de livre acesso às estantes); a “gratuitidade
dos serviços” – a biblioteca pública sendo financiada pelo erário público,
pelo dinheiro dos contribuintes, é um bem de todos, de toda a população; o “empréstimo
domiciliário” – porventura o mais nobre dos serviços prestados pela
biblioteca pública e que permite que cada um requisite e possa levar consigo as
obras que deseja ler; o “carácter enciclopédico das colecções” – a
biblioteca pública não existe, apenas, para disponibilizar livros ditos
“técnico-científicos sérios”; deve pressupor uma oferta generalizada,
abrangente, dirigida a toda a gente, sem exceção. É deste modo que se deve
falar e entender a abrangência temática das colecções, o carácter genérico das
publicações e, mais recentemente, a multiplicidade da tipologia de documentos e
a introdução das modernas tecnologias de informação (o novo conceito de
mediateca que já não pressupõe, apenas, a abrangência de livros).
O acesso à informação é, hoje,
reconhecido como um direito básico do ser humano e o mesmo encontra-se
consagrado na Magna Carta das bibliotecas públicas – o Manifesto da UNESCO
Sobre Bibliotecas Públicas – o qual refere expressamente que: “a
biblioteca pública é o centro local de informação, tornando prontamente
acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os
géneros” (...), sendo que: “a participação construtiva e o
desenvolvimento da democracia dependem tanto de uma educação satisfatória, como
de um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao pensamento, à cultura e à
informação”. Nesta última frase encontram-se, porventura, os princípios
mais caros à missão da biblioteca pública enquanto lugar privilegiado de
educação (aproximando e dando a descobrir o prazer da leitura, apoiando a
educação individual e a auto-formação); promotor do acesso a uma informação
diversificada (quer quanto à forma quer quanto aos conteúdos) e plural, capaz
de responder, em termos de oferta de serviços e consumos culturais, educativos
e informativos, às necessidades crescentes da sociedade contemporânea.
O livre acesso às ideias e à
total liberdade de expressão são fundamentais no processo educativo e evolutivo
do ser humano, e é deste modo que o Manifesto (a primeira versão data de
1949) surge intimamente relacionado com a Declaração Universal dos Direitos
do Homem (adoptada e proclamada pela Assembleia Geral da ONU em 1948) a
qual, sob o artigo 19.º, consagra que: “Todo o indivíduo tem direito à
liberdade de opinião e expressão o que implica o direito de não ser inquietado
pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão”.
Revelando profundo sentido de
dever e respeito por este mesmo princípio, os profissionais de informação em
Portugal uniram esforços e, em 1999, apresentaram e adoptaram o Código de
Ética o qual, sob o n.1 (Liberdade Intelectual) consagra que: “Os
profissionais de informação em Portugal são defensores intransigentes do acesso
à informação e unem esforços para que esta atitude seja corroborada por uma
prática, contínua e exigente, de alerta contra todas as formas possíveis de
censura”, estando-‑lhes cometidas, entre outras, as seguintes
responsabilidades:
1.1. Facilitar o acesso dos
utilizadores dos serviços de informação a todo o género de informações
publicadas sob qualquer suporte;
(...)
1.6. Explicitar, na
definição da política de informação do serviço a seu cargo, que a missão
principal deste é a disponibilização da informação, de todos os géneros, em
todos os suportes, para todos os utilizadores;
1.7. Não permitir
interferências exteriores, que possam impedir ou dificultar o acesso à
informação disponível nos seus serviços;
1.8. Não permitir que as
suas opiniões pessoais interfiram na liberdade de acesso à informação;
1.9.
Opor-se à implementação de qualquer solução tecnológica que possa limitar ou
manipular o acesso à informação;
1.10.
Elaborar, participar na elaboração, conhecer, apoiar e divulgar a legislação
que diz respeito ao direito de acesso à informação sem qualquer interferência.
A censura deve,
obrigatoriamente, constar da agenda do profissional bibliotecário. Alertar e
educar todos os funcionários de biblioteca para as questões de ética, liberdade
intelectual e direito à informação é fundamental para o cumprimento e avanço
dos direitos, deveres e missão da biblioteca. Daí que discutir a censura e as
acções apropriadas para a combater, resultará mais profícuo existindo uma
associação que a nível nacional promova uma política de liberdade intelectual e
familiarize os seus membros com o código dessa política. As bibliotecas podem
sempre incorporar a política nacional no seu quotidiano e recorrer à “sua
declaração de princípios” quando postas perante situações de censura.
Todavia, apesar de todos os
esforços para a construção e ampliação de um espaço democrático, promotor do
livre debate e do respeito pelo outro, do direito à diferença e à pluralidade,
é preciso continuar a tirar lições do passado e a não baixar os braços, pois o
fenómeno da censura, se não continuou a prosperar, terá continuado a fazer-se
sentir de uma forma sempre latente. O fenómeno da censura não é novo; é, aliás,
muito antigo. Veio, contudo, a intensificar-se com o aparecimento da imprensa,
altura em que surge sob duas grandes formas: a censura repressiva e a censura
prévia. Desde então, quer na mão do poder eclesiástico, quer na mão do poder
civil, a repressão não mais deixou de fazer sentir os seus efeitos sobre o
livro. Escrever livros, imprimir livros, publicar livros, vender livros...
passou a constituir atividade perigosa e delituosa. Permitir o acesso à leitura
de obras banidas nas bibliotecas – alvo de pesadas sanções.
Ora, o direito à leitura, à
escrita, à partilha da palavra, é uma consequência necessária, um instrumento
indispensável e inalienável. Bem o expressou Maria Manuela Cruzeiro quando
afirmou que:
“Não pode
ser livre quem não está informado do que se passa no mundo em que vive e na
sociedade em que está integrado. Não pode ser livre quem não tiver a
possibilidade e a capacidade de escolher, entre tudo o que o rodeia, daquilo
que mais lhe convém e de que mais gosta. A liberdade, consignada na informação
do que existe, é dada ao indivíduo através do que os outros indivíduos produzem
nos domínios da ciência, da técnica, da ficção e da arte. Essa liberdade vai-se
adquirindo progressivamente desde o berço, desde o ‘ver’ e o ‘ouvir’. Todo o
indivíduo tem o direito de dispor da possibilidade de, diretamente pelos seus
próprios meios, poder estar informado do que lhe é conveniente ou prejudicial,
de poder, por exemplo, na beira de um caminho, saber se a água que corre de uma
fonte é própria ou imprópria para beber. Mas quando o indivíduo adquiriu a
capacidade de falar, ele adquiriu simultaneamente a necessidade de falar.
Impedi-lo de satisfazer essa necessidade é violentá-lo, é escravizá-lo e
roubar-lhe a necessidade de exercer um direito. E quando o indivíduo adquiriu a
capacidade de ler, adquiriu ao mesmo tempo, não só a necessidade de ler, mas a
fome de ler. Porque quanto mais conhecimentos adquire, mais coisas
desconhecidas o indivíduo pressente e quer conhecer. Por outro lado, o ser
humano é, por excelência, comunicativo. Assim como tem ânsia de conhecimento,
tem também ânsia de transmitir esse conhecimento. E quando se impede um
indivíduo de comunicar com o seu semelhante, está-se-lhe a roubar o direito à
liberdade de comunicação.
Por isso,
os homens livres condenam a censura.”
É uma citação algo longa mas
que denota – de modo particularmente expressivo e evidente – a necessidade
inata a todo o indivíduo de comunicar, de criar, de conhecer e de poder
partilhar, sem restrições, a sua vivência, opinião e experiência com o seu
semelhante.
Hoje, como ontem, reconhece-se
e luta-se pela liberdade de expressão e do pensamento, tendo como objetivo uma
informação livre e pluralista, garante da democracia, da defesa da paz e do
progresso político, social e económico de um país. Recorde-se, a propósito, a
exposição que a Biblioteca Pública de Braga apresentou por ocasião da
comemoração do XX aniversário do 25 de Abril de 1974 sobre o tema «Livros
Proibidos no Regime Fascista». Nela se davam a conhecer uma série de obras que
o anterior regime proibia a venda e circulação e cuja leitura era vedada nas
bibliotecas públicas, de acordo com as diretrizes emanadas da Direção dos
Serviços de Censura, da Direcção Geral de Informação, do Ministério da Educação
ou dos Serviços de Depósito Legal da Biblioteca. Grande número de autores
estrangeiros estavam proibidos e era praticamente impossível editá-los em
português. E não se tratava, apenas, de autores abertamente políticos como
Marx, Engels, Lenine, ou Trotsky. Um vasto número de conhecidos autores
estrangeiros (Jorge Amado, Simone de Beauvoir, Sartre, Simone Weil, André
Malraux, etc.) e nacionais (Miguel Torga, Aquilino Ribeiro, José Cardoso Pires,
Virgílio Ferreira, Manuel Alegre, Urbano Tavares Rodrigues, etc.) não podia ser
lido, quanto mais, publicado! Para além dos temas manifestamente políticos,
questões ligadas à sexualidade, à Igreja Católica, ao marxismo ou ao comunismo
eram sistematicamente alvo de perseguição e censura. A política cultural
repressiva impedia o debate e a circulação de ideias e proibia que as pessoas
lessem obras de alguns dos mais importantes vultos da cultura portuguesa e
mundial.
No fundo, a questão da censura
passa, em muito, por uma questão política e em todas as épocas e latitudes têm
surgido Estados (particularmente os mais conservadores) que denotam particular tendência
e entusiasmo no que concerne ao domínio da informação e divulgação e ao acesso
à informação e às ideias, recorrendo à censura como ferramenta de controlo
social. E isso constitui sinal evidente de grave ameaça à liberdade
intelectual. Em certo sentido, segundo refere Bob Usherwood, “(...) toda a
censura é política, porque a liberdade de expressão e a liberdade de divulgar
informação constituem, em si, ideais políticos. Restringir essa liberdade, a
que Roosevelt chamou ‘a primeira liberdade’, é pois um acto político”. Não
é necessário recuar muito para obter exemplos. Recorde-se o que em pleno século
XX aconteceu na Alemanha nacional-socialista, em vários países do antigo Bloco
de Leste, na África do Sul ou durante o regime de McCarthy, nesse bastião da
democracia e dos direitos humanos que são os Estados Unidos da América. Em
todos eles, as bibliotecas públicas foram alvo sistemático de expurgo e os
livros retirados e queimados num fanático ressuscitar dos tristemente célebres
autos de fé da Santa Inquisição medieva.
Os mecanismos do aparato
repressivo revelam-se praticamente os mesmos em todo o lado, embora os
respetivos graus e meios de pressão possam variar. O mais interessante, porém,
se não mesmo o mais relevante e surpreendente, é verificar que também acontece
nas mais emblemáticas e exemplares democracias.
Como sublinha Ann Curry: “Os
bibliotecários deverão, naturalmente, obedecer a leis, mas evitar determinados
assuntos apenas ‘por uma questão de segurança’ resultaria numa colecção
censurada, mutilada, que poucos ou nenhuns propósitos serviria”.
Muitas vezes, a tónica da
questão tem sido também colocada no papel do próprio bibliotecário e na
responsabilidade que este deveria assumir enquanto responsável por selecionar e
disponibilizar o material que chega às mãos das pessoas, particularmente dos
jovens e das crianças, sendo certo que muita gente associa propósitos
educativos e pedagógicos à biblioteca. Aumentar a consciencialização dos
profissionais da informação ajuda à visibilidade do problema, mas nesta, como
noutras áreas, há questões éticas particularmente importantes que se colocam,
por exemplo: “quem” e “como” deverá decidir sobre o bem e o mal? Trata-se de um
ponto particularmente sensível, pois a fronteira que divide a censura, da selecção
do material, é uma linha muito ténue e facilmente conducente a esse fenómeno
tão, ou mais complexo, que é o da autocensura (resultado de preconceitos
individuais que podem ter como base as mais diversas origens). O equilíbrio
entre as preferências pessoais e o interesse público constitui, porventura, o
lado mais difícil da gestão das colecções. Seleccionar passa por, de boa-fé,
analisar o conteúdo de um livro e por aferir da contribuição que o mesmo poderá
aportar à comunidade. Ao passo que a censura busca, normalmente no exterior,
razões (convicções e ideologias perfiladas pelo autor, nacionalidade, raça,
gostos ou hábitos pessoais) que garantam a sua rejeição.
Bibliotecários alertados e
formados estão, naturalmente, mais predispostos a fazer um julgamento rigoroso,
isento e capaz quando envolvidos na tarefa de seleccionar material e mais aptos
a defenderem o material que seleccionaram. Como explicita Waldomiro Vergueiro:
“O seleccionador tem fé na inteligência do usuário, partindo do pressuposto
de que este saberá retirar da obra o que de positivo existe na mesma; o censor,
por outro lado, tem fé apenas em sua própria inteligência e capacidade de
julgamento, imaginando que todas as demais pessoas são poços de ingenuidade que
precisam ser protegidos das mazelas e malfeitos da vida”. Apesar dos
receios (fundados ou infundados), dos escrúpulos do bibliotecário em
seleccionar determinada obra para a sua biblioteca, haverá sempre que
reconhecer (em primeiro lugar) que existirá uma procura para esse tipo de documento
na sua comunidade de leitores. É essa procura que determina e que permite
identificar as necessidades dos membros da comunidade.
Certo, porém, é que muitos
agentes estão em jogo – os pais, a família, a escola, os amigos, etc. – e
passar o ónus da manutenção e vigilância por inteiro ao bibliotecário poderá
ser fácil mas, convenhamos, não se afigura inteiramente justo. Do mesmo modo
que partir da premissa de que o conteúdo de um livro, cujo teor seja
nitidamente de caráter sexual, racista ou de violência explícita, conduz
automaticamente ao desencadear de atitudes ou comportamentos subversivos no
comum dos cidadãos, não pode ser assumido como um dado inequivocamente
adquirido e comprovado. Todos nos encontramos, do mesmo modo, expostos aos mais
variados estímulos e, se bem que uns tendam a revelar-se mais influenciáveis do
que outros, é perigoso (e seria lícito?) determinar o que pode estar reservado
a uns e não a outros. Retomando, ainda, as palavras de Manuela Cruzeiro:
“Nem sempre
aquilo que o homem livre tem para adquirir é de boa qualidade. Nem sempre a
informação a colher é útil. Nem sempre a fonte de informação é boa. Mas faz
parte integrante da liberdade do ser humano ser ele próprio capaz de escolher o
que lhe convém ou o que ele rejeita. Por isso, os homens livres condenam a
censura. A censura total ou parcial. A censura moral, ideológica ou qualquer
outra, porque todas elas são atentatórias da liberdade. Qualquer espécie de
censura será sempre o equivalente às sociedades obscurantistas que, impedindo o
homem de satisfazer a sua sede de conhecimento, o violentam e o escravizam,
impedindo-o de exercer um dos seus mais elementares direitos – o direito à
informação”.
O já citado Manifesto da
UNESCO Sobre Bibliotecas Públicas não podia, do mesmo modo, deixar de
referir-se abertamente ao tema estatuindo que:
“As
colecções devem refletir as tendências atuais e a evolução da sociedade, bem
como a memória da humanidade e o produto da sua imaginação. As colecções e os
serviços devem ser isentos de qualquer forma de censura ideológica, política ou
religiosa e de pressões comerciais”.
No entanto, apesar de toda as
experiências e evidências passadas, e demais esforços expendidos, os tempos que
correm nem sempre se têm revelado favoráveis à propagação de novas ideias e
isso reflete-se, e é particularmente sentido, por aqueles que lidam com a sua
divulgação, sejam eles: bibliotecários, livreiros, escritores, editores,
artistas, galeristas, etc. Acontece que sempre existiu, e existe, um
determinado conjunto de pessoas e grupos de pressão que, simplesmente, não
estão dispostos a aceitar ideias que manifestamente lhes desagradam e então
optam pela via mais fácil: bani-las. As vítimas desta atitude de ignorância,
desrespeito, intolerância e antagonismo não são apenas as instituições, as
atividades comerciais; é, acima de tudo, o público em geral e, em última
instância, a própria sociedade no seu todo – pois sem liberdade de leitura é a
própria democracia em si mesma que é posta em risco.
Torna-se, pois, urgente (re)agir
contra todo o tipo de pressões e preconceitos que exijam o retirar da
biblioteca daqueles livros, ou de quaisquer outros materiais, que veiculam
conceitos ou ideias com os quais se discorde – partam essas pressões de
autoridades governamentais, civis, religiosas ou outras.
O livre
acesso às ideias e à total liberdade de expressão são fundamentais no processo
educativo e, no discurso de Usherwood: “A questão da liberdade intelectual é
central para o princípio e prática das bibliotecas públicas – na realidade de
todas as bibliotecas”.
Do mesmo
modo, expressa-se o Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA (Associação
Internacional de Associações de Bibliotecários e Bibliotecas)/UNESCO
referindo que:
“O acesso
aos serviços e fundos documentais deve orientar-se pela Declaração Universal
dos Direitos e Liberdades do Homem, aprovada pelas Nações Unidas, e não deverá
ser sujeito a nenhuma forma de censura ideológica, política ou religiosa ou a
pressões comerciais.”
A biblioteca
pública deverá, assim, constituir-se como um centro local de informação que
facilite a todos os utilizadores toda uma gama variada de conhecimentos e
informação através de uma colecção organizada e equilibrada de materiais
bibliográficos, gráficos, audiovisuais ou em qualquer outro suporte, assim como
através dos novos sistemas de informação e das tecnologias mais avançadas e
que, simultaneamente, garanta o acesso livre e direto ao conhecimento, à
informação e à cultura. Só um acesso livre e sem limites ao conhecimento, ao
pensamento, à cultura e à informação possibilitam a liberdade, a prosperidade e
o desenvolvimento da sociedade e de cidadãos bem informados para exercerem os
seus direitos democráticos e desempenharem um papel activo na sociedade. Por
isso, universalmente, os serviços das bibliotecas públicas prestam-se na base
da igualdade de acesso a todas as pessoas, sem ter em conta a idade, raça,
sexo, religião, nacionalidade, língua ou educação social e sem pressupor
qualquer forma de censura ideológica, política ou religiosa.
Como consequência,
a biblioteca deverá adquirir recursos que representem uma grande variedade de
pontos de vista. A biblioteca deverá assumir os princípios da liberdade
intelectual e fazer frente a qualquer tentativa de censura no âmbito dos
recursos bibliográficos, procurando servir e participar na comunidade em que se
insere. A biblioteca pública não pode ambicionar resolver todos os problemas da
humanidade, mas deverá estar atenta a eles e tentar resolvê-los. Terá, no
entanto, grande responsabilidade no que respeita a dar a conhecer e a
salvaguardar a liberdade intelectual, garantindo e facilitando o acesso a todas
as formas de expressão do conhecimento e da actividade intelectual, incluindo
todas aquelas que alguns membros da sociedade possam considerar ofensivas, não
convencionais, impopulares ou inaceitáveis. Para salvaguardar este propósito, é
da exclusiva responsabilidade do bibliotecário garantir o direito à liberdade
de expressão, tornando acessíveis aos utilizadores reais e potenciais da
biblioteca os seus espaços, ferramentas e serviços sempre que estes o
solicitarem, criando-lhes a possibilidade de estudar, garantir nova formação,
ter informação e poder atuar na sociedade de uma forma diferente. O objetivo
deverá ser o de formar pessoas que vão à biblioteca, que possam criticar a
biblioteca mas, acima de tudo, formá-las para que possam formar e emitir um
juízo crítico sobre as coisas.
Só assim a
biblioteca poderá ser, nas palavras de Maria Luísa Cabral: “Um local
fantástico refletindo um fluxo constante de informação, em que os livros só
fazem sentido pela utilização que lhes for dada, pela circulação que lhes for
autorizada, pelo próprio desgaste físico que sofrerem.”
José Miguel
Gonçalves
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2016/11/16
Peça do mês de novembro
Trotineta elaborada pelos alunos de uma das turmas da escola,
no âmbito das práticas pedagógicas de Trabalhos Manuais. A trotineta é um
brinquedo constituído por uma tábua montada em duas rodas em linha, e munida
de uma haste com guiador que dirige a roda da frente.
Está inventariada com o número ME/403910/57 e pertence ao
espólio museológico da Escola Secundária de Arouca.
Este brinquedo foi inicialmente criado na Alemanha dos anos 20
e tratava-se de um veículo utilizado pelos adultos. Com a sua dupla faceta,
meio de locomoção/ desporto, a trotinete captou adeptos em todo o mundo e
começou a destacar-se sobretudo a partir dos anos 90.
Desde que passou a ser produzida em materiais mais leves e se
abandonou a madeira, a trotinete sofre um enorme impulso tornando-se prática
e leve de transportar, utilizada quer por crianças, quer por adultos.
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Peça do Mês; Museu Virtual da Educação
2016/11/09
Conferência na Secretaria-Geral de Educação e Ciência: "A Arquitetura Escolar: os Liceus da República"
No próximo dia 15 de novembro pelas 17h 15 realizar-se-à no Auditório da Secretaria-Geral da Educação e Ciência a conferência "A Arquitetura Escolar: os Liceus da República", por Alexandra Alegra. A entrada é gratuita, mas as inscrições são obrigatórias e sujeitas à capacidade da sala, podendo ser efetuadas por email (dsda@sec-geral.mec.pt).
2016/11/02
Cem tesouros da Biblioteca Pública do Porto em cenário contemporâneo
A exposição "Cem tesouros da Biblioteca Pública do Porto em cenário contemporâneo" foi inaugurada no início de setembro e estará patente ao público até ao dia 13 de novembro na Galeria Municipal no 1º piso do edifício da Biblioteca Municipal Almeida Garrett. Trata-se de uma oportunidade única de visualizar obras de grande referência, divididas em 12 núcleos temáticos e cronológicos. Para mais informações consulte o site. (Imagem retirada de http://www.bad.pt/noticia/2016/09/27/cem-tesouros-da-biblioteca-publica-do-porto-em-cenario-contemporaneo/)
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